domingo, 16 de novembro de 2014

Noutro canto

Ela estava lá, era quase noite, eu bebia feito um louco buscando em cada nova dose uma queda de consciência. Ela bebia suco natural, enquanto lia um livro daqueles grandes, o cabelo dela estava preso num coque mal feito, tinha também um batom vermelho contornando seus simétricos lábios. Não sei como conseguia estar tão concentrada num lugar barulhento desses. Pernas cruzadas -e que pernas!- o vestidinho preto leve que ela usava parecia contornar perfeitamente aquele corpo com delicadeza. 
Minutos apreciando ela e nem precisei mais de bebida, o jeito dela já me embriagava. Ela começou a guardar suas coisas e tirou sua carteira da bolsa, levantou, conferiu se não havia esquecido nada e foi em direção ao caixa. Não sou do tipo que chega em mulheres desconhecidas. Apesar da idade, não acho certo querer tudo com uma mera garota que vi de longe, há minutos. Mas ela parecia certa apesar da ocasião ser errada. A bebida agindo no organismo deu um empurrãozinho para que eu a tocasse o braço e dissesse que a estava observando. Ela ficou assustada, deu um sorrisinho rápido e desviou o olhar. Eu disse meu nome, ela retribuiu com o dela e em seguida declarou estar atrasada. Eu a disse que se ela viesse comigo, não estaria atrasada para mais nada. Ela sorriu e, surpreendentemente, me puxou para fora do local.
Começamos a bater papo nos afastando lentamente do bar e lembrei que meu carro estava estacionado ali perto. A convidei despretensiosamente para uma volta...
A volta foi dada, era tarde já e chovia. O silencio nos consumia até que ela falou: vira a próxima direita. Obedeci feito um cachorro. Apenas acenei que sim com a cabeça e fiz o que aquela moça de papo bom e sorriso leve disse. Entramos num estacionamento à céu aberto, bem vazio e mal iluminado. A velocidade do carro estava reduzida à 10 km/h. Eu não questionei sobre nada, só olhava e sorria pra ela enquanto dava voltas pelo estacionamento. Ela finalmente manda eu parar. Quando eu paro, ela tira meu cinto de segurança, tira o dela, e vem com sede à minha boca. Vi meu corpo se misturar com o dela, vi os vidros embaçarem, vi ela se arrepiar, vi seu vestido desabotoar, ouvi a chuva e, descobri um tipo novo de mulher. Soube naquele momento que ela era de fato, certa. E não fácil, ela era livre e esbanjava sua confiança em cada movimento.