domingo, 23 de agosto de 2015

Posso entrar?

Não sei porquê você ainda manda subir quando o porteiro diz que meu nome espera na portaria, sabe, confesso ter pensado em mentir inúmeras vezes o nome, insegura sobre um possível "o você está fazendo aqui?". Mas talvez sua pureza na alma e amor na vida não te deixem bater a porta, metaforicamente, na cara daquela que recebeu sua declaração de amor frente aos amigos numa noite que passava longe da sobriedade, aquela que teve seu amor em mãos e preferiu aventuras regadas à proezas do destino, se é que essa coisa de destino existe.
Enfim, tem tempo que lanço meu coração à batidas calmas que só se precipitam em situações orgásticas. Tem estado tudo tão estático e precisei da sua insanidade equilibrada para envenenar meu corpo e alma. Não há lugar na cidade em que me sinto em paz e ao mesmo tempo em euforia constante que no seu apartamento. 
A verdade é que o frio na barriga do qual sempre tive no elevador ao passar pelo 5° andar, se repete, não importa quantas paixões eu viva, porque te visitar é um linha tênue entre me machucar mais ou ponderar anestesicamente minhas dores. Então chego à sua porta, por ouvir o elevador (acredito), você já grita lá de dentro que a porta está destrancada. Eis que surge um sorriso de alívio e ansiedade no meu rosto, respiro fundo, certificando-me que estou pronta para receber uma solução independente de qual seja o problema.
Abro a porta, você está largado no sofá usando aquela velha bermuda bege com o cinto marrom, o max deitado no pé do sofá, programa de domingo meia-boca na TV, o vizinho continua ouvindo Times Like These do Foo Fighters, duas almofadas laranjas, sua cabeça na parte do encosto espiando minha entrada com seus belos olhos que para mim são azuis e para você, verdes.
-Trouxe um par de histórias e cervejas, posso ainda assim entrar?
-risos*
Aí você veio com aquele abraço demorado, como quem já aproveita o tempo por saber que é só uma noite de papo furado, uns beijos trocados, um romance postergado.