sexta-feira, 23 de maio de 2014

Vomitando você


Surpresa ! Exatamente, eu não corri atrás, não lamentei minhas dores na sua janelinha de conversa. É um lugar que espero não abrir nunca mais. Digo isso do meu coração, mas continuo entregando ele por aí. 
Não adianta eu tentar ignorar meus sentimentos e lembranças, guardá-los, e permanecer de alma suja. Então, como o "seu" caso não é encerrado, eu preciso continuar renovando minha paz...
Não deixo de lembrar seu sorriso escandaloso toda vez que passo na calçada em que passávamos sempre, onde todos os dias nossos sentimentos para com o outro afloravam. Foi naquela mesma rua que você puxou meu braço e segurou minha mão pela primeira vez, lembro até do esmalte das minhas unhas contrastando com sua pele branquinha feito neve. Lembro do nosso primeiro beijo, que não aconteceu muito longe daquela rua. Não esqueço da sua voz; dos seus olhos castanhos esverdeados que brilhavam enquanto você sorria até ficar com as bochechas rosadas; do seu perfume que insistia em grudar em mim; do seu cabelo macio; da maneira como você falava; dos seus braços me envolvendo em papos que na época eu achava o máximo; das nossas tardes no parque, brincando na chuva; dos seus problemas que eu adorava ouvir; do primeiro "eu te amo"; daquele bloco em que nos refugiamos da chuva, das pessoas, do mundo.
Tal qual, lembro da sua primeira manifestação grosseira, da sua ira que invadiu o lugar do nosso amor, de algo que continuará para sempre inexplicável.
Eu não sinto falta. Mas eu me recuso a ignorar coisas tão bonitas, simplórias e verdadeiras que eu guardo de você e do que fomos um dia. Eu prefiro acreditar que você ainda é aquele garoto, tímido que raramente trocava olhares, de poucas palavras, meigo, doce, transparente, pelo qual me apaixonei. E ainda, prefiro fingir que tenho culpa do nosso fim, para que essa sua imagem fique comigo para sempre.